TIMOL

HISTÓRIA DO TIMOL


TIMOL - Teatro feito por crianças para crianças
1965 – 2014

O TIMOL – TEATRO INFANTIL MONTEIRO LOBATO surgiu em 1965 a partir do desejo das crianças e jovens que freqüentavam a Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato de fazerem teatro. Sob a liderança de Iacov Hillel, criança fundadora do Grupo, os pequeninos ocuparam uma sala da Biblioteca e ali iniciaram suas atividades; este espaço, que por muitos anos foi conhecido como a Sala do TIMOL, é hoje o Auditório Lúcia Lambertini. Ao longo dos primeiros dezoito anos de existência o Grupo foi orientado sempre por um dos seus integrantes, o que fez com que suas características
essenciais fossem mantidas. Neste período o TIMOL realizava duas montagens semestrais e uma peça curta de fim de ano com o tema natalino. Quando Iacov saiu, Marcos Caruso, então com 18 anos, assumiu a direção; ele já atuava nas peças e além de dirigir, iniciou sua carreira de dramaturgo escrevendo vários textos infantojuvenis para a garotada freqüentadora dos ensaios. Arthur Leopoldo e Silva, que também atuou com Iacov e Caruso, deu continuidade aos trabalhos de 1979 a 1983 quando o Grupo completou sua maioridade.

Nestes primeiros anos, eram três ensaios semanais, todos no Auditório, onde era possível já ensaiar no próprio cenário. Contávamos também com um acervo de figurinos das peças realizadas e confecção de novas vestimentas a cada montagem. Muitas vezes, a peça estreada em Junho continuava em cartaz aos Sábados, no segundo semestre, enquanto o Grupo já preparava o espetáculo de Novembro.

Neste período, esta atividade promoveu impulsos e notoriedade às ações da Biblioteca. Em 1978, o espetáculo “Perfeitápolis, A Cidade da Alegria”, nomeou o Auditório homenageando Lúcia Lambertini, a primeira Emília da Televisão brasileira, tendo recebido, por esta peça, crítica teatral de Tatiana Belinky, colocando o TIMOL em destaque entre as produções realizadas para a infância e juventude, tal era sua projeção em termos de originalidade, afinal, tratava-se de um projeto que nasceu na Biblioteca com o propósito de garantir a experiência teatral entre crianças para crianças.

Ao longo dos encontros os participantes vão formando um núcleo que pretende brincar, pensar, experimentar, organizar e chegar à montagem de um espetáculo que nasce dos seus anseios. O que difere a prática do TIMOL de outros projetos é a conclusão dos trabalhos na forma de um espetáculo e é isto justamente que promove o diálogo de seus integrantes entre si e principalmente com o público, formado por freqüentadores da Biblioteca e moradores do seu entorno, através de uma temporada que mantém viva a percepção de todo processo desenvolvido, gerando novas reflexões, aprimoramentos e recepções ao final de cada nova apresentação.

A partir de 1984 a Prefeitura deixou de contratar um dos atores/diretores do Grupo fazendo com que o TIMOL passasse a ser dirigido por funcionários da Prefeitura, ou como se deu mais recentemente, através de credenciamentos de outros Projetos como o PIÁ (2011 e 2012) e Vocacional (2013 e 2014). Com isso se perde a própria história do Grupo que antes tinha sua continuidade pelas mãos de integrantes veteranos, que carregavam consigo a experiência vivida ali perpetuando uma atividade que se alicerça nos encontros e discussões entre os próprios participantes, facilitando sua apropriação da linguagem, do espaço e de toda Biblioteca com os suportes que oferece.


Estando próximo de completar 50 anos de existência é o desejo de todos nós, participantes e ex integrantes, que o TIMOL recupere seu curso, passando sempre pela orientação dos próprios freqüentadores, estando subordinado diretamente à Biblioteca, garantindo as condições para a concretização de suas montagens, iniciando seus trabalhos no máximo em Março de cada ano, para que seja possível a montagem de duas peças anuais e que também, sejam reservados recursos para atenderem às necessidades materiais mínimas para a confecção de cenários e figurinos.

Texto por Valéria Lauand
Integrante do Grupo TIMOL de 1972 a 1979 e atualmente Orientadora (2012 e 2014)


Depoimentos retirados do livro comemorativo de 18 anos do TIMOL


Diretores do Timol

Iacov Hillel

O TIMOL é um Teatro diferente dentro da cidade, porque é um Teatro feio por crianças e para crianças, não uma atividade de final de ano escolar.

Eu faço Teatro desde criança; eu me lembro desde os 6 anos. O Teatro é meu estigma e sempre gostei de dirigir. Aprendi muita coisa no TIMOL que tenho usado até hoje. Foi também o melhor período de minha vida. Ao mesmo tempo que trabalhava no TIMOL eu fazia vários cursos por fora. Fui aluno do Eugênio Kusnet. Usava o método Stanislawsky na criação de papéis. Eu trabalhava com as crianças o que aprendia nos cursos. Trabalhava no TUCA fazendo “Morte e Vida Severina” ao mesmo tempo que dirigia o TIMOL. Trabalhei com outros profissionais de dança, movimento, e passava todo esse aprendizado para o TIMOL. (...)

O Teatro infantil peca normalmente pela visão imbecilizada que o adulto, tem da criança. O adulto, quando representa para crianças, infantilizar-se.

No TIMOL tinha um retorno, uma vibração porque eram crianças que diziam para crianças aquilo que elas queriam ouvir. O que acontecia era que a platéia ali sentada não era tão inútil perante o que era dito. O melhor do TIMOL é a relação entre o palco e platéia que se dá ao mesmo nível.

A importância do TIMOL na educação é o que de melhor se pode ter. Na realidade, teatro é uma atividade que mexe com tudo que o ser humano tem. Não estou falando do ensinamento, mas do próprio fato da pessoa estar lá. Pelo fato de se apresentar, a pessoa tem que desenvolver várias coisas que ela tem embutida, a comunicação e a expressão. O teatro dá contato com o desenho, a dança, estudo da psicologia, um estudo da personagem da própria pessoa que vai representar esta personagem e também dos outros seres humanos. Você só ajuda o desenvolvimento da criança à medida que você dá a ela uma oportunidade de escolha, e não que você diga a ela o que fazer. O estímulo da criatividade se dá quando você mostra as várias opções. Um espetáculo feito por crianças é um estágio do desenvolvimento humano e não uma obra em si acabada.

A dinâmica de grupo é sempre desenvolvida, principalmente em laboratório, jogos dramáticos. Nos jogos dramáticos eu dava maior ênfase, pois a criança trabalha pela imitação. (...)
Sou fundador e 1º Diretor do TIMOL, no qual trabalhei por 7 anos.

Marcos Caruso

Entrei em 1968 quando ainda o Iacov era o diretor. Eu tinha dentro de mim uma vontade muito grande de representar e não sabia onde, como, com quem começar. Então o TIMOL foi uma coisa fantástica que apareceu na minha vida no momento em que a gente era um grupo de crianças que fazia tudo mesmo. Não havia apoio financeiro, o que se tornou maravilhoso, pois a partir de nossa criatividade passamos a fazer de tudo, desde cenários até figurinos etc... Fiquei trabalhando como ator. Três anos depois o Iacov passou a direção para mim, de 1971 até 1980. (...)

Na minha época fizemos grandes conquistas, pois uma nova diretoria assumiu o cargo, e com excelente ajuda do grupo conseguimos alguns melhoramentos para o auditório tanto em termos físicos como estéticos. Além disso, foi comprado também o material do auditório, como mesa de luz, e outras coisas. Foi idealizado um trabalho muito bonito, que era de levar às Bibliotecas as peças que fazíamos ou então a Biblioteca (as outras) virem até nós. Eu preferia que vissem, porque teriam uma idéia do teatro de uma forma tradicional.

De início vinham as Bibliotecas, depois foi aberto um espaço para crianças carentes. Esse trabalho foi ganhando corpo e o TIMOL ganhou quatro críticas da Folha de São Paulo.
Na minha época foi inaugurado o auditório Lucia Lambertini. Acredito que não fui um diretor por esporte, mas isso só quem pode dizer é o grupo. Procurei sempre dar condições às pessoas para fazer aquilo que elas gostariam. É evidente que não fui um tirano, mas algumas vezes tomei pulso da situação, pois muitas vezes os adolescentes vinham despejar seus problemas, uma vez que o TIMOL era considerado uma segunda família para eles.

No Brasil nós temos uma lacuna cultural em relação aos prés-adolescentes. Nessa faixa etária não existe nada dirigida a eles.

O teatro feito por crianças e para crianças é um estímulo, apesar de se ter algumas correntes contrárias.

No teatro feito por crianças você dá a essas crianças a oportunidade de se desenvolverem criativamente. Eu nunca pensei em ser autor, mas foi no TIMOL que tive a oportunidade de desenvolver a minha criatividade.

Eu espero que o TIMOL não morra, porque ele não viveu 18 anos, sobreviveu, porque no início era uma dificuldade muito grande fazer os meninos representar. Eles não queriam, e as meninas é que faziam os papéis masculinos. Sobreviveu porque as peças que existiam tinham que ser adaptadas para a época. E sobreviveu pela dificuldade de burocracia da Prefeitura.

Arthur Leopoldo e Silva – Diretor do TIMOL após 80

Sabe, eu acho o TIMOL tão importante que não sei por onde começar. Quanta gente boa de teatro, televisão, cinema, começou aqui! A escola deles foi o TIMOL. Veja bem, o TIMOL é um dos únicos grupos de teatro feito por crianças e adolescentes. O que é feito por aí em escolas, com raras exceções, nem deveria ser feito. Festas de fim de ano, trabalhos de aula. Geralmente frustram a pessoa, além de passar uma idéia deteriorada de teatro, chegando a ser antipedagógico. Sabem isso está ligado à idéia do ensino discursivo. Aquela coisa de um fala outro escuta, de decorar, de repetir. No teatro o conflito está sempre presente, o referencial é amplo. Você trabalha com criação e não com Xerox. No TIMOL nós sempre criamos de tudo. Todo teatro sempre foi uma grande oficina. A maior importância do TIMOL é ser uma escola prática de teatro. Isso está ligado ao fato de o TIMOL ter seu espaço. No III Encontro Estadual de Teatro para Infância e Juventude da APTIJ, foi bem debatido o fator espaço. No meu depoimento eu falei, e o povo concordou, que tudo o que foi feito pelo TIMOL foi basicamente possível por causa do espaço. Então é importante que se preserve esse espaço para a criança e o adolescente fazer seu teatro. Por isso nós pensamos em dar uma dimensão maior a essa comemoração dos 18 anos. (...)

A partir de 1981, começou a ser mais importante o número de crianças que assistiam o teatro e não as que faziam. O TIMOL era colocado em programações oficiais, em eventos. Se valorizou demais a quantidade de apresentações, a atividade ficou deteriorada. A biblioteca de um modo geral virou um centro de consumo. E aí foi uma luta incrível. Nós tivemos que brigar muito para manter um mínimo de qualidade da atividade. Nisso a Christina Tavares deu a maior força. Nesse ponto nós sempre concordamos. As pessoas da supervisão sempre encararam a biblioteca como um centro gerador de cultura. Antes as decisões eram centralizadas, nossa participação no planejamento era podada. Um horror! Mas nós sempre batemos o pé. Hoje estamos superanimados, incentivados, participando. Mas o mais importante de tudo isso é que o espaço seja preservado, para podermos um dia comemorar os 100, os 1000 anos do TIMOL.

Maria Christina Tavares

Minha experiência foi excelente. Eu entrei na prefeitura em 68, e, nessa época, quem dirigia o TIMOL era o Iacov. Ele era freqüentador da biblioteca, não era funcionário. Era necessário a supervisão de um funcionário e lá fui eu. Durante alguns anos, no TIMOL, eu dirigi algumas peças e foi uma experiência fantástica, não só do ponto de vista profissional, mas principalmente do lado pessoal. Do ponto de vista humano foi extremamente enriquecedor. (...)

O TIMOL tem um valor que o coloca acima de outros trabalhos de teatro infantil porque eram crianças e adolescentes fazendo trabalho para outras crianças. Na época a gente conseguiu desenvolver um espírito crítico dentro da própria platéia. Ninguém ia lá pra “enrolar” a criança. O adulto faz o que ele acha que a criança quer ver. Então eu acho importante essa participação no mesmo nível, isto é, que os atores sejam parte do grupo, da comunidade, onde esse grupo TIMOL esteja atuando.

Acho bom e é uma experiência que não se pode perder. Acho que essa experiência deve ser usada, explorada para que a coisa tenha uma continuidade.

Ex-integrantes do TIMOL

Roseli Silva

Entrei no TIMOL em 66. A primeira peça que fiz foi “Quero a Lua”. Eu tinha 9 anos e era a menor do grupo. Aquilo tudo era um desbunde para a gente.

Isso aqui era território livre. A gente ficava aqui o dia inteiro, trabalhava intensamente. (...)

A gente no TIMOL tinha esse espaço mágico, fechava a porta do auditório e fazia o que queria. Lá fora é bem mais difícil, não há espaço. No TIMOL pode-se dar ao luxo de se fazer o que se quer, não precisa montar algo que seja “comercial”. As pessoas aqui se desenvolviam, elas podiam “crescer”.

Aqui as pessoas aprendiam a repartir, a se organizar, isso era uma microestrutura da sociedade.

Yara Camilo

Eu tinha 8 anos de idade. Freqüentava a Monteiro Lobato, porque a gente vivia umas 6 crianças dentro de um kitnet e minha tia despachava a gente pra lá. Aí eu comecei a fazer teatro com o Iacov.

A primeira peça que eu fiz foi “Sinos de Natal”, em 66.

O esquema de trabalho era uma grande brincadeira, uma coisa que siderava a gente. Era um prolongamento da nossa fantasia.

Corinaldo Maia

Quando entrei no TIMOL, foi por volta de 1978, já tinha feito outros trabalhos, mas nenhum foi igual ao TIMOL, pois o TIMOL tinha cenários maravilhosos, figurinos incríveis e os integrantes do grupo eram pessoas mais maravilhosas do mundo. Eles me davam uma força enorme. (...)

A importância do teatro feito por crianças e adolescentes é que para as crianças é uma coisa sensacional, porque a criança não fica só sentada, ela participa ativamente do espetáculo. Porque se um adulto faz teatro infantil, fica aquela coisa falsa, as crianças não se satisfazem, elas vão ao teatro, ficam sentadas, assistem, depois vão embora. Mas quando é feito por crianças tem um envolvimento maior da platéia com os atores, e as crianças gostam, porque é isso que elas querem. (...)

O que eu aprendi em relação a teatro infantil devo tudo ao Teatro Infantil Monteiro Lobato.


“QUERO A LUA” – Adaptação Tatiana Belinky – Direção Iacov Hillel – Out/1966



“A VERDADEIRA ESTÓRIA DA GATA BORRALHEIRA COMO ACONTECEU NO BRASIL EM 1930” – de Maria Clara Machado – Direção Iacov Hillel – Mar/1971



“A ONÇA E O BODE” – Autor desconhecido – Direção Arthur Leopoldo – Ago/1972



Foto de cima: “UMA NOITE ENCANTADA” – Autoria e direção de Marcos Caruso - Jun/1975
Foto de baixo: “DO BERÇO À BENGALA” – Criação Coletiva Grupo TIMOL – Direção Marcos Caruso – Nov/1977


“O CASARÃO” – de Walter Quáglia – Direção Marcos Caruso – Out/1978
“OCULOSÂNDIA” – Autoria e direção de Marcos Caruso – Mai/1979


“PINGO E PONGO” – de Edson Nogueira Biller – Arthur Leopoldo – Ago/1981


“O CASAMENTO DA EMÍLIA” –  Direção Arthur Leopoldo – Mai/1982


“RAPTARAM PAPAI NOEL” – de M. C. Machado – Direção Arthur Leopoldo – Dez/1982


“DÁDIVA” – Autor desconhecido – Direção Iacov Hillel – Dez/1968


Ex-participantes do TIMOL


Ex-participantes do TIMOL e Relação das Peças

“QUEM CASA QUER CASA” – de Martins Pena – Direção Iacov Hillel – Jul/1967


“Perfeitápolis, A Cidade da Alegria” – 1978 Texto e Direção: Marcos Caruso


Crítica de Tatiana Belinky – Folha de São Paulo – 21/06/1978


“DEPOIS DE AMANHÔ – Criação Coletiva Grupo TIMOL – Direção Valéria Lauand – 2012


“HISTÓRIAS NA GARRAFA” – Criação Coletiva Grupo TIMOL – Direção Valéria Lauand – 2013



0 comentários:

Postar um comentário

 

© 2013 Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato. Traduzido Por: Template Para Blog - Designed by Templateism

Back To Top